7.10.12

Wonderful World

Chegava o momento, todos ali reunidos esperando ele, lembrando-se de outros momentos, todos os outros momentos.

No início era apenas um, pouco a pouco foram se conhecendo, cada um com sua história e aspirações, ao fim, eram tantos, mas principalmente sete.

Conheceram vários mundos, ou melhor, um mundo em várias épocas, da manhã a noite, do início ao fim, percorreram todos os doze do relógio, descobriram as engrenagens que o movia a tanto tempo.

Conheceram pessoas sem esperança, pessoas orgulhosas, pessoas sombrias, pessoas que nem pareciam pessoas!

Lutaram e lutaram, andaram, correram, deram risadas.

Aos poucos se separaram, cada um para a sua casa, o mundo estava salvo.

As saudades ficaram.

Mas em um relógio, guardado no bolso, sempre estarão ali.

Todos os amigos, aventuras, e aquele mundo maravilhoso, estaria sempre com eles.

28.7.12

Grip/Edge

Fique quieto, macaco, apenas morra!

Insignificante!

Desista desse esforço inútil!

Nada adiantava, o homem levantava novamente, seu corpo destruído, seus braços não tinham forças, pernas pareciam queimar em brasa, todo seu corpo doía e gritava para que ele deitasse e desistisse, mas aquele sentimento não lhe deixaria, sua alma fervia, seus punhos agora cerrados, doíam a cada movimento, seu pescoço era a única parte do corpo que ele fazia questão de manter imóvel, atrás dele, toda sua vida tomada, destruída, seus punhos eram movido por ódio e claro, amor. A única coisa que lhe restara era sua filha, que havia sido tomada dele, ao retomar sua pose de batalha, soltava um rugir que abalava a terra, seus olhos já estavam cegos, era movido por pura determinação, passos pesados, respiração pesada, punhos cerrados e dentes cerrados, indo em direção de seu oponente.

Seu oponente... ele flutuava calmamente, impecável, despejava sobre o homem um olhar de soberania, suas vestes brancas dançavam ao vento, seus lábios formavam um sutil sorriso, ao redor dele, toda a cor ia sumindo, sendo engolido pelo vazio branco, o campo de batalha que antes era um campo florido, aos poucos se tornava um vácuo, sua pele dourada passava a ser ainda mais chamativa agora, seus olhos vermelhos pairavam sobre o homem que mal ficava em pé. ele esticava o braço apontando os finos e longos dedos para seu oponente, como um trovão, uma lança dourada surgiu entre seus dedos, a mesma era segurada com calma, como uma agulha.

Você é apenas humano.

O homem que antes caminhava em direção ao seu oponente de pele dourada agora corria, em pouco tempo tão rápido que se assemelhava a um vulto, os olhos de seu oponente arregalaram-se ao presenciar a velocidade do humano, em pouco tempo sentia seu punho lhe acertar o rosto em cheio, derrubando-o de sua pose vitoriosa, deixando-o largado no chão como qualquer um, o homem soltava um grunhido de dor, e dizia para seu oponente.

Ninguém merece um deus como você!

19.6.12

Old Time Blues

O som dos corredores rangendo a cada passo do homem anunciavam sua presença as ruínas que a muito não viam nenhum vivo, uma antiga torre agora há muito em repouso às areias do deserto, ele era um homem esguio e de estatura mediana, porém a estrutura estava tão avariada que a cada passo parecia que o mundo ia cair novamente, ele via telas cobertas de poeira e quebradas, a cada canto que passava, tentava achar algo útil para sucatear, uma das coisas que carregava era um pedaço de pedra cinzenta afiada, uma pedra que cortava mais que as pedras comuns, algo extremamente raro, e o local estava cheio disto, muito pesado para conseguir carregar tudo em sua mochila, que já estava cheia de tralhas.

Ao caminhar mais adiante na torre, achava esculturas em pedra esbranquiçada no mínimo curiosas, porém a pedra era muito frágil para se fazer algum proveito, algumas dessas esculturas seguravam pedras afiadas e em formato de conchas, dos quais pegava alguns, ainda sem entender a utilidade dos mesmos. Também achava alguns pedaços de pedra marrom e pedra cinzenta juntos, estilhaçados, aparentemente eram um só antes, um monte de tralhas inúteis ao ver do homem, que após trinta anos catando tralhas para sobreviver, tinha o olho afiado para itens úteis.

O homem por fim achava um quadrado de pedra frágil marrom, cheia de caroços e olhos, e o que lhe parecia uma cauda, cauda que parecia poder ser alimentada por luz, o homem guardou a caixa na mochila, que agora lhe parecia pesar toneladas, e machucavam sua nuca com as antenas da caixa, decidiu apertar o passo na torre, a fim de atravessá-la de vez, pegava duas pernas de pedra transparente, o que lhe era bastante valioso para a sobrevivência nas areias e seguia a caminhada, até que um item curioso lhe chamou a atenção, uma grande caixa negra de pedra dura, o tipo de pedra mais dura que já viu, ainda assim, uma fissura aberta permitiu que, com a ajuda de uma alavanca pudesse abrir o quadrado de pedra, ele achou alguns artefatos curiosos, pareciam folhas quadradas presas no couro de alguém, com riscos indecifráveis neles, reconhecia algumas palavras apenas pelo som da pronúncia, o que lhe fez carregá-los.

Ao chegar no burro que carregava várias mochilas e sacolas, pegou a caixa negra de luz e dois tendões, prendendo-os no rabo da caixa que antes achara, algumas luzes se acenderam e a caixa começou a chiar, o homem começou a torcer os caroços da caixa até que ouviu uma voz, "Todos que ouvirem, todos que sobreviveram, venham ao sul...", foi tudo que ouviu antes que a caixa voltasse a chiar, o homem não sabia o que era mais confuso, os chiados ou as palavras do homem.

"O que é o Sul?"

11.3.12

Época das tatuagens mentais

Chega uma época da vida em que suas definições, planos e ideais já estão definidos de tal forma, como tatuagens, em sua mente, seu corpo já está completamente coberto por elas, símbolos, palavras, retratos, tudo junto como uma só, e o resultado desse grande borrão de idéias é você, sua representação mental, como você se vê, não suas roupas ou cabelo, nem seus piercings, apenas suas idéias, tudo visível a olho nu, e indecifrável de primeira.

Seja um Veritas no pulso, indicando que você moveu sua vida até então sendo o mais justo e verdadeiro possível, movendo suas ações justamente, seja uma aranha no ombro, que significa o quão frágil e pequeno o ser humano é, mas ainda sim capaz de construir coisas além das expectativas.

Não apenas um idiota que vai no tatuador, aponta para qualquer uma e diz "É aquela que eu quero", cada uma das tatuagens tem uma idéia e uma história, uma marca permanente em sua memória e pele, para quando você for apenas carne morta, possam te ler como um livro, saber exatamente como viveu.

Um Ankh, uma cruz, a foto ou nome da pessoa amada, um tigre, um dragão, um pássaro, um inseto, todos com sua devida história, O que te guia, te motiva, te faz viver, para sempre em sua pele, até não sobrar mais espaço e você notar que sempre vai ter mais tatuagens na sua cabeça.

20.1.12

[Hollow]

Ruas sem cor, desertas e escuras, ele via o mundo todo em preto-e-branco, sem som, sem vento, sem céu, apenas um branco profundo sobre sua cabeça, podia ver a rua em que crescera a sua frente, ele andava pelo meio da rua, não passavam carros, nem pessoas, a rua e a estrada estavam escuros, criando contraste com o céu branco, que não emitia luz, em passos pequeninos ele caminhava à norte, pelo meio da rua, sem rumo. Fome? Sede? Medo? Tudo isso havia ficado para trás, onde ainda havia cor, a cor lhe foi tomada de forma tão rápida, sempre é assim. Ele estava sozinho, mas estava com muitos, cada um sozinho de forma igual. Quando havia cor, seus cabelos eram dourados, um pequeno garoto de quatro anos. Agora, seus cabelos pareciam brancos, devido a falta de cor.

O garoto então sentia o chão tremer, seus pés já haviam caminhado incontáveis vezes, por incontáveis lugares e por lugar nenhum, tudo permanecia negro e branco, quieto e sozinho. pela primeira vez, ele via um cone negro, de "luz" surgir da floresta negra a frente, ele caminhou inconscientemente até lá, dentre cada árvore, sobre o solo úmido, caminhou ainda mais, muito mais que jamais andara, florestas, cidades, descampados, mais florestas, até chegar no alto de uma colina, onde descansava uma rocha negra, parecia com um cristal negro, que refletia o branco sobre sua cabeça, ele parara em frente a ele, tocando-o com ambas as mãos, o cristal, de alguma forma, sugou todo o branco do "céu", deixando tudo negro, então, ele começou a brilhar, e esse brilho carregou o garoto, que quando notara, levitava no ar, e subia cada vez mais.

Finalmente, depois de décadas, ele sentiu alegria e paz.

7.1.12

Coisas para se dizer no 18º aniversário do seu filho

Filho, me lembro como se fosse ontem, você tão pequeno em meus braços, tão inocente, naquele momento me desliguei totalmente do mundo, e parecia que um novo mundo nascia, o que não deixa de ser verdade, Dezoito anos, tanto e tão pouco, me lembro de cada ano, cada mês e cada dia como se estivessem gravados em minha pele, desde os dias em que sua mãe ainda estava conosco, até os dias árduos após sua partida, muitas vezes quase desisti, mas para um homem, nunca é tão simples assim.

Agora, depois de dezoito anos começa de fato sua vida, todos seus padrões, conceitos e gostos já estão formados, o que não significa que não vão mudar, porque eles mudam a cada dia, acredite, eu sei, e o mais engraçado: A cada momento que observava da sua vida, me lembrava da minha, tempos tão diferentes, filmes, música, roupas, tecnologia, pareciam outro mundo, hoje em dia você vive em um mundo com tecnologia por todos os lados, não teria ideia de como é colocar um disco de vinil para tocar e ouvir a voz do Rei, Elvis é claro, quando tinha sua idade, notava as coisas mudando e tive a ideia de comprar todos os filmes, músicas e livros que marcaram minha vida, na esperança de um dia marcarem a sua também, e espero que tenham marcado, valeram uma grana.

Você me vê hoje, jamais imagina que na sua idade a ideia que mais me aterrorizava era de ter um filho, uma família, e bem, não é tão mal. O que me fez mudar de ideia foi algo relativamente bobo, chega a um ponto da vida de um cara metido a sabe tudo que ele começa a dar valor aos pais, e pensa "Se eu não tiver filhos, quem passará os genes deles pra frente? Eu não vou fazer nada de importante mesmo, quem sabe meu filho ou filha, um dia?", seria como estar matando meus pais! Eu era inseguro demais para a ideia de ter alguém dependendo de mim a sua vida (quase)inteira, muitos pais até hoje são, vai entender.

E aqui estou eu, tendo a conversa entediante de todo pai babão, você já tá bem grandinho pra saber o que é certo e errado, mas quer saber da maior? Não existe certo e errado, é tudo relativo, você já tem os seus certos e errados, o que podem ser diferentes ou exatamente iguais aos meus, quem sabe? Não existe um valor universal para isto, nem deveria. Os filmes, músicas e livros que marcarem sua vida, compre-os e guarde-os para se algum dia tiver filhos, eles possam desfrutar das mesmas experiências que você, e ter conceitos iguais ou diferentes. Seja sempre a melhor pessoa possível, e dependendo do caso, o pior inimigo possível. Esteja preparado para tudo, acho que te criei bem, confio nisso. Saiba diferenciar as amizades e pessoas de valor, jamais deixe um bom amigo escapar, eles são raros. Pais que escrevem livros diriam "Componha uma música", mas todos temos uma música, composta por nós ou não, pessoalmente tenho várias, e cada uma delas me define de forma que só eu sei, a vida é como uma música, se você não a fizer, alguém fará por você, geralmente será sua esposa, quer você queira ou não. Nunca perca a cabeça com nada, só com o que não merece sua calma.

Eu poderia escrever livros sobre coisas que você deveria saber, para não cometer os mesmos erros que cometi, provavelmente muitas destas coisas você não entendeu, algum dia entenderá, e minhas palavras parecerão profecias, porque são. A única coisa que devo te dizer que você deve fazer com toda a certeza é viver, e acima de tudo, Sobreviver.

16.9.11

Liberdade, para sempre

Existia, em algum lugar, uma pequena ilha, uma ilha onde o sol sempre brilhava, o mar era sempre acolhedor com os habitantes da ilha, fornecia peixes para a ilha, e tudo que precisassem, os habitantes viviam em casas feitas de troncos de árvore, que eram frescas no calor, e quentes no frio, era uma ilha paradisíaca, de fato.

Existia um menino, porém, que não se contentava com conhecer apenas aquela ilha, queria desbravar os mares, conhecer mais pessoas, ver coisas, conhecer o mundo, seu pai era pescador, certo dia, o jovem pegou o barco a remo de seu pai e começou a remar, remou, por dias, meses, até se alimentava dos peixes que o mar fornecia, e bebia a água da chuva, após todo esse tempo com apenas o céu e o mar como seus parceiros, ele finalmente chegou a Terra firme, era um grande continente, existiam milhares de tipos de pessoas, várias culturas, logo ao chegar, conheceu um Bardo, que usava um instrumento de cordas que emitiam melodias tranquilas e harmoniosas, era o ritmo do jovem, ele pediu ao velho bardo para ensiná-lo, o mesmo aceitou, relutante, e após o término do longo treinamento, o bardo, orgulhoso, deu aquele instrumento para o jovem, ele era de longe mais habilidoso, e tinha muito mais a viver, que aquele velho bardo que tocava para viver, "Suas canções tocarão o coração de inúmeras pessoas, até o fim de sua vida, rapaz.", disse o Bardo, o rapaz, contente, passou a caminhar pela terra, conhecendo várias culturas que nem ao menos conheciam seu idioma, o rapaz conseguiu cativar todas essas culturas com sua música, conhecia a natureza, pessoas, lugares, tudo novo.

Conheceu uma bela jovem, ela não falava seu idioma, e tinha exatamente a mesma idade que ele, tocava o mesmo instrumento, seus olhos eram da mesma cor, eles não tinham o mesmo idioma, mas se entendiam perfeitamente, e após o tempo, ela passou a viajar com o jovem.

Após anos e anos, o já não jovem homem, retornou a ilha de onde veio, seu velho pai mal o reconheceu, e se emocionou ao vê-lo, o pai perguntou ao seu filho "Por quê você foi embora? Por quê nos deixou?", o homem retrucou "Precisava saber o que significa liberdade, Pai.", o pai não entendeu direito, mas achou melhor não contradizer o rapaz.

Anos depois, o filho daquele homem, que também se tornou um pescador, começou a mencionar coisas do mesmo tipo que o pai dizia, e pouco tempo depois, o homem ficou gravemente doente, em seu leito de morte, o pai chamou seu filho, e lhe disse "Meu filho, nessa idade, eu tive as mesmas perguntas que você tem, os mesmos sentimentos que você tem, até a mesma cara! Você quer saber a resposta para o quê é a Liberdade, certo? Infelizmente meu filho, não posso lhe dizer, confio que você irá buscar dentro de si a resposta, e quando a tiver, virá me dizer...", essas foram as últimas palavras do homem, que faleceu ali mesmo, com um sorriso de satisfação ao rosto, e os olhos fixos em sua esposa, o amor de sua vida.

Trinta anos depois, o filho retornou ao túmulo de seu pai, finalmente com a resposta.

"Pai, a Liberdade é limitada com os seus limites, a Liberdade que os seres humanos tanto prezam, não é a verdadeira liberdade, a Liberdade é o conhecimento, a vida é limitada, você sabe muito bem disso, mas a vivência, o conhecimento é ilimitado."